segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A elaboração do conceito de gênero data dos últimos vinte anos. A sua difusão apresenta-se, então, como o resultado mais palpável do pensamento feminista, com reflexo sobre a base epistemológica da construção dos saberes, a ponto de influir na tomada de consciência sobre a ausência de neutralidade, também, nas produções científicas e históricas.

Existe hoje uma ampla literatura envolvendo o conceito de gênero gestada nos espaços acadêmicos, nas Ong’s feministas e não feministas, no âmbito da cooperação internacional e até do aparelho de Estado.

Em decorrência dos interesses e da missão de cada um desses atores coletivos, a interpretação do conceito de gênero e, conseqüentemente, o seu uso sofrem adaptações ideológicas que, em muitos casos, reduzem o seu conteúdo político e, a sua potencialidade para transformação das relações de poder, tal qual o sublinha Joan Scott (1995):

Gênero é um elemento constitutivo das relações sociais, baseado nas diferenças percebidas entre os sexos. E gênero é a forma primeira de significar as relações de poder.   

Com exceção dos países escandinavos e, dentre eles, principalmente a Suécia, a ação feminista, no intervalo entre 1960 e 1990, se caracteriza, primeiro, por uma forte mobilização voltada para a ampliação da participação das mulheres nos movimentos sociais e, segundo, por uma significativa retração de investimentos em mecanismos dirigidos à ampliação da participação das mulheres nos espaços de decisão, ensejados pela democracia representativa. Ou seja, houve uma desaceleração dos esforços feministas no sentido de implementar os direitos políticos das mulheres nos espaços de poder resultantes dos processos eletivos.

Por um período que vai do final da segunda guerra, e, em muitos casos, até os nossos dias, essa retração está relacionada a toda a descrença que muitas das sociedades experimentaram e experimentam frente às limitações da democracia representativa nos moldes liberais em atender aos anseios de participação de amplas camadas da população, e uma crença profunda nas possibilidades da democracia participativa de garantir de forma efetiva tal participação. A combinação desses dois elementos levou e ainda leva o feminismo a identificar uma incompatibilidade entre representação e participação. Contribui para isso, também, uma certa culpa das feministas, diante da esquerda, por haver lutado ferozmente pelo direito das mulheres ao voto, ou seja, pelos direitos políticos no espaço das democracias burguesas, quando a palavra de ordem era revolução. Contudo, as frustrações com as formas autoritárias dos partidos de esquerda, dos sindicatos e das sociedades socialistas de construir a igualdade vão levar o feminismo a aprofundar a sua compreensão sobre a necessidade de autonomia das organizações de mulheres para combater o patriarcado.

No momento atual, acreditamos que o feminismo, em sua ação em favor da divisão do poder entre homens e mulheres nos espaços de governo, deverá aprofundar a análise de gênero sobre o sufragismo e a democracia representativa. Isto porque, os conhecimentos sobre essa matéria estão mais referidos nas perspectivas da revolução e da categoria classe, do que na perspectiva de gênero, o que impede uma visão crítica mais profunda.

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