segunda-feira, 29 de novembro de 2010


No campo da organização sociopolítica, o feminismo funciona refletindo o distanciamento das mulheres do lugar do autoritarismo, apresentando agrupamentos não hierárquicos, autônomos e com bom nível de relações solidárias com outros sujeitos, sem delegação de representação baseada na exclusão, com forte marca de ação em rede e grandes momentos de confluência de interesses. 

No campo do conhecimento, o feminismo apresenta uma produção dispersa em termos de autoras, porém concentrada em temas, por períodos, numa acumulação de achados, que tem influenciado rupturas epistemológicas significativas no campo das ciências sociais. A teoria feminista de gênero é exemplar neste campo, quando envolve, entre outras, a releitura da categoria patriarcado, a crítica às teorias marxista e freudiana, e a definição de novas categorias como divisão sexual do trabalho e indivisibilidade política-ideológica entre público e privado. Essas questões são melhor trabalhadas em um outro texto nosso, intitulado “O que é gênero?”.

É preciso compreender e utilizar, no sentido que diz Chico de Oliveira (1995, p.12),

A notável contribuição que o movimento feminista em suas formas próprias e várias, deu e continua dando à tomada de consciência do Estado sobre os seus deveres. É uma democratização que se dá ao nível do cotidiano e que, portanto, tem tudo para ser de uma radicalidade, numa sociedade tão desigual, que os mais otimistas não são capazes de suspeitar.

Partindo dessa declaração de reconhecimento, poderíamos dizer que essa contribuição “para tomada de consciência sobre seus deveres” não se limita ao nível do Estado, mas, penetra a sociedade civil organizada: movimentos sociais, partidos, sindicatos, ONG’s, etc. Contudo, as relações de poder entre homens e mulheres continuam cotidianamente muito duras, seja nos campos objetivos ou subjetivos da vida em sociedade, seja no interior do aparelho do Estado, ou de partidos, sindicatos e outras organizações mistas.  Dessa forma, é necessário não confundirmos conquistas, apenas formais, ou certas adesões masculinas, com transformação das relações de gênero. Essa clareza as mulheres não a adquirem apenas com a conquista de uma vida pública, mas no exercício de uma vida política dentro das instituições da democracia. O distanciamento do pensamento feminista e das feministas dos espaços de poder que regem as democracias representativas em nada contribui para transformação da divisão sexual do poder. A supervalorização de uma suposta competência técnica, recém-adquirida pelas mulheres, para resolver a pobreza combinada à ausência do feminismo nos espaços da decisão política é uma armadilha. É preciso estar atentas às resistências das relações patriarcais na contemporaneidade, e se posicionar no sentido de contribuir para que as mulheres dividam, hoje, com os homens os lugares de poder, e de afirmar o feminismo como pensamento ativo na reorganização do aparelho de Estado.

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